Mónica Guerra e Carolina Videira são reconhecidas como Empreendedoras Sociais Ashoka

À frente do Instituto Comida do Amanhã e da Turma do Jiló, trabalham para transformar políticas da alimentação e educação inclusiva, inspirando uma cultura de colaboração que transcende setores e fronteiras 

Fundo em azul marinho com grafismos nos cantos. Ao centro, há as fotos de Mónica Guerra e Carolina VIdeira. Mónica, à esquerda, é uma mulher branca de cabelos pretos na altura dos ombros e raízes grisalhas. Ela usa óculos, uma camiseta preta e sorri para a foto. Carolina, à direita, é uma mulher branca de cabelos médios, castanhos, ondulados que sorri para a foto

A Ashoka tem o prazer de anunciar o reconhecimento de Mónica Guerra e Carolina Videira como as mais novas integrantes de sua comunidade global de Empreendedoras Sociais. Seja transformando sistemas alimentares, seja recriando ambientes escolares, Mónica e Carolina desafiam os sistemas que promovem exclusão. Elas criam novas maneiras de coordenar políticas e parcerias que beneficiem todas as pessoas.

“A Ashoka se especializou em encontrar um grupo extraordinário de inovadoras sociais, como Mónica e Carolina, que já estão transformando a realidade com soluções estruturantes. Quando essas pessoas que empreendem no campo social se conectam, elas geram uma força muito especial, muito maior que o impacto de cada uma individualmente”, diz Rafael Murta, diretor de Comunidade e Territórios Transformadores da Ashoka. “Estamos observando que quando há uma massa crítica de empreendedores sociais abordando um problema ou atuando num território, é possível definir uma arquitetura autocorretiva de tomada de decisões, que tem compromisso com a inclusão e a justiça, onde comunidades e indivíduos participam de forma significativa na gestão das políticas e ações que os afetam. Nosso propósito é catalisar essas arquiteturas sociais capazes de combater a desigualdade.”

Considere a questão da fome. Entre 2020 e 2022, cerca de 10% dos brasileiros enfrentaram insegurança alimentar grave. Apesar de uma leve melhora desde 2023, 8,7 milhões de pessoas ainda passam fome no país. A situação é mais crítica nas regiões Norte e Nordeste, onde está a metade dos lares brasileiros que convivem com a fome. Além disso, famílias negras têm 2,2 vezes mais chances de passar fome do que famílias brancas, e aquelas chefiadas por mulheres estão especialmente vulneráveis. A urbanização crescente também impacta os sistemas alimentares, com 70% dos alimentos produzidos globalmente sendo consumidos em áreas urbanas. Contudo, a falta de coordenação entre governos e sociedade civil dificulta a solução do problema.

Diante desse cenário, o Instituto Comida do Amanhã (ICA), fundado pela Empreendedora Social Mónica Guerra, trabalha em duas frentes principais: influenciar políticas públicas e moldar percepções por meio de inteligência e curadoria de conteúdo. O foco é fortalecer o direito à alimentação saudável e sustentável nos municípios, com destaque para o programa Laboratório Urbano de Políticas Públicas Alimentares (LUPPA), uma plataforma colaborativa reconhecida como o maior laboratório de políticas alimentares do mundo.

O LUPPA ajuda cidades brasileiras a desenvolverem políticas alimentares robustas, intersetoriais e com participação social. Desde 2006, o Brasil possui o Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (SISAN), mas foi estabelecido com adesão voluntária, e apenas 1% dos municípios tinham planos de segurança alimentar em vigor até 2018. O desmonte de políticas estruturais entre 2017 e 2022 agravou a situação. O LUPPA busca reverter esse quadro, promovendo capacitação de gestores públicos, articulação entre setores e compartilhamento de boas práticas.

Como funciona? Anualmente, o LUPPA seleciona 10 municípios, priorizando aqueles da Amazônia Legal (40% das vagas). As prefeituras assinam um compromisso para participar, e equipes locais, compostas por gestores públicos e representantes da sociedade civil, recebem treinamento e mentorias. As atividades incluem diagnóstico inicial, seminários preparatórios, laboratórios colaborativos e acompanhamento contínuo. O objetivo é integrar políticas locais a estruturas federais e criar redes de cooperação entre cidades. Desde sua criação, o LUPPA impactou diretamente 43 cidades, alcançando 14 milhões de brasileiros.

Expansão. Em 2024, o ICA iniciou uma parceria com o Ministério de Desenvolvimento Social para implementar a estratégia Alimenta Cidades em 60 municípios, ampliando seu alcance. Além disso, o instituto promove diálogos intersetoriais, como o Café com o Comida, que reúne organizações para discutir soluções alimentares no Brasil. Mónica Guerra destaca que as cidades precisam ser protagonistas na criação de sistemas alimentares resilientes, que enfrentem a crise climática e promovam justiça social.

Educação e Narrativas. O ICA entende que novas narrativas estão intrinsecamente ligadas a mudanças políticas e à capacidade de impulsionar a adoção de novos comportamentos e normas sociais. Por meio do projeto Poliniza Buzz, um laboratório sobre histórias de comida, já publicou cinco livros infantis gratuitos que promovem o pensamento crítico sobre sistemas alimentares. Essa abordagem ajuda a envolver comunidades desde cedo na construção de soluções. Também aposta muito na importância de facilitar debates intersetoriais e na produção de inteligência coletiva. Nesse sentido, lidera a realização de diversos diálogos sobre sistemas alimentares, como os da cúpula de sistemas alimentares da ONU, visando a troca de experiências e fortalecimento do ecossistema das organizações que trabalham com sistemas alimentares no Brasil.

Saiba mais: ashoka.org/pt-br/fellow/monica-guerra 

Foto de Mónica, mulher branca com cabelo preto na altura dos ombros e raízes grisalhas. Ela sorri para a foto e usa óculos, uma camiseta preta e um botton roxo. Ao fundo, há pessoas sentadas em cadeiras.

“Toda a jornada de empreender o Instituto Comida do Amanhã tem sido guiada com um propósito que se renova e reforça permanentemente – a ideia de que o que comemos muda o mundo! O meu propósito enquanto empreendedora, e das demais fundadoras do instituto - Juliana Tângari e Francine Xavier, com quem compartilho a liderança - é de trabalhar por um mundo onde  todas as pessoas tenham acesso a uma alimentação saudável e adequada, num sistema que é justo e diverso em todas as etapas, da produção ao consumo final. E para isso, colocamos a comida no centro do debate público e das políticas públicas.”

Agora pense na importância de garantir que o sistema educacional regular possa oferecer um ambiente de aprendizagem e convivência de qualidade para todas as crianças, incluindo as crianças com deficiência. No Brasil, onde 45 milhões de pessoas têm algum tipo de deficiência, 67% dessa população não completou o ensino fundamental ou não tem escolaridade, segundo o IBGE. Apesar da Lei Brasileira de Inclusão (Lei 13.146 de 2015) garantir o direito à educação em igualdade de condições, escolas enfrentam desafios como infraestrutura inadequada e falta de formação para professores. A maioria dos docentes não se sente capacitada para atender turmas diversas, o que dificulta a criação de currículos inclusivos e perpetua desigualdades.

Fundada por Carola Videira (Carola), a Turma do Jiló existe para superar essas barreiras. Seu Programa de Educação Inclusiva (PEI) oferece suporte às escolas em duas etapas: implementação no primeiro ano e monitoramento e adaptação no segundo. Tudo começa com um diagnóstico. Carola e sua equipe coletam dados para entender as necessidades dos estudantes e avaliar as barreiras de acessibilidade na escola. Depois, treinam professores para mediar a aprendizagem e o convívio de grupos diversos de estudantes, com várias habilidades, incluindo pessoas com deficiências. Suas ferramentas pedagógicas enfatizam a neurociência numa perspectiva de que todos os cérebros, sem exceção, podem aprender. Os professores escolhem os estudantes com mais desafios de aprendizagem para elaborar um plano de aula dedicado a eles. Após a elaboração desse plano, apresentam suas ideias para o corpo docente e recebem feedback uns dos outros.

Carola tem por premissa o exercício da empatia cognitiva. Por exemplo, professores são incentivados a compartilhar seus desafios e como eles afetam seu trabalho. Isso gera confiança e um senso de comunidade que acolhe as necessidades dos professores. Essas práticas de escuta e compreensão ancoram a empatia como uma ferramenta para os professores no planejamento de aulas para seus alunos e para os outros relacionamentos na rede que Carola desenvolve em torno de uma escola.

Os estudantes também participam de projetos sobre diversidade e inclusão, desenvolvendo agência e protagonismo. A criação de grêmios estudantis e discussões sobre acessibilidade fortalecem o senso de pertencimento e responsabilidade.

A Turma do Jiló oferece suporte emocional e prático aos pais de crianças com deficiência, incluindo treinamento contra preconceitos e educação financeira acessível. E ainda, em parceria com especialistas, a equipe avalia e adapta espaços escolares para garantir acessibilidade total.

Impacto. A Turma do Jiló estabeleceu uma parceria emblemática com o município de Santana de Parnaíba, onde o programa foi adotado como política pública. Após a implementação em uma escola, o impacto positivo levou à expansão para todo o município, beneficiando 10 mil alunos e 1.000 professores. A evasão escolar caiu de 37,5% para 0,5%, demonstrando a eficácia da abordagem.

Parcerias e Expansão. A Turma do Jiló colabora com secretarias municipais e estaduais para ampliar sua atuação. Em São Paulo, está contribuindo com o desenvolvimento da Política de Educação Especial (PEE-SP), iniciando com diagnósticos e treinamentos para replicar o modelo em larga escala, beneficiando até 5 milhões de alunos. Também atua em escolas particulares por meio de programas de voluntariado juvenil, engajando jovens em questões de inclusão e promovendo o pensamento crítico. Além da escola, a iniciativa Todos Juntos conecta educação e empregabilidade, apoiando empresas em estratégias inclusivas e preparando lideranças para receber diversidade no ambiente de trabalho.

Saiba mais: www.ashoka.org/pt-br/fellow/carolina-videira

Foto de Carolina, mulher branca de cabelos ondulados, compridos e castanhos. Ela usa uma blusa de manga curta azul marinho e posa para a foto, sorrindo de braços cruzados

"Meu propósito como empreendedora social é criar um mundo mais inclusivo, onde todas as pessoas, independentemente de suas diferenças, possam ser respeitadas e valorizadas. Acredito que minha entrada na rede Ashoka me permitirá expandir o impacto das iniciativas que desenvolvo, especialmente na área de inclusão de pessoas com deficiência e neurodivergentes, fortalecendo ainda mais o movimento de transformação social.”