Silvana Bahia, idealizadora da PretaLab, é reconhecida como Empreendedora Social Ashoka

Defensora da equidade racial e de gênero em um setor dominado por homens brancos, Silvana trabalha ativamente para garantir a presença e o reconhecimento de mulheres negras no campo da tecnologia

Vê-se uma foto de Silvana Bahia (mulher negra de cabelos médios, cacheados e castanhos).

No início, a ideia era ser só um hub, um espaço de troca entre mulheres negras no campo das tecnologias. Mas quando Silvana Bahia começou a contar, notou que não havia mais que dez mulheres negras em seu círculo. Era preciso gerar dados para qualificar esse fenômeno e então iniciar uma política de inclusão efetiva no campo das tecnologias. Assim nasce a ideia da PretaLab, em 2017, quando Silvana começou a circular em espaços high-tech. Essa consciência da ausência de mulheres negras na tecnologia definiu sua dedicação à causa, o que a mais nova Empreendedora Social Ashoka resume assim: "se o mundo é cada vez mais digital e o digital está se tornando nossa linguagem principal, se não nos apropriarmos dessa tecnologia, vamos perder poder." 

Criada para conduzir mulheres negras ao protagonismo no universo da tecnologia, a PretaLab é uma rede para profissionais negras que funciona como porta de entrada em um campo em que a igualdade de gênero é um desafio. Segundo o estudo "Vozes Negras na Tecnologia Brasileira", realizado pelo Instituto Identidades do Brasil (ID_BR), em parceria com a consultoria global de software ThoughtWorks, apenas 2% das mulheres negras ocupam cargos de liderança em empresas de tecnologia – e 70% delas afirmam ter sofrido algum tipo de discriminação racial em suas carreiras. 

“Silvana tem sido vanguarda no campo das tecnologias e suas interseccionalidades com gênero e raça. É hoje importante referência para toda uma geração de pessoas negras, sobretudo mulheres, que encontram nas tecnologias e suas linguagens um novo campo de atuação profissional, de pesquisa e de incidência sociopolítica”, afirma Rafael Murta Reis, diretor na Ashoka Brasil. "Integrar Silvana à comunidade Ashoka é reconhecer os impactos significativos que ela vem alcançando nesta área,” conclui.​​

Como mulher negra, a jornalista nascida no centro Rio de Janeiro viveu na própria pele as dificuldades de inserção no mercado de trabalho. Ao comprovar que sua situação não era única, percebeu que a falta de confiança, depressão e esgotamento, que com frequência a abatiam, eram sintomas das desigualdades sociais e raciais. ​​

Trajetória com a tecnologia. Com uma trajetória profissional marcada pelas passagens pela Agência de Redes para Juventude e no Observatório de Favelas, Silvana teve contato estreito com grupos sub-representados nas esferas de poder e decisão. A soma dessas experiências com o conhecimento conquistado em uma oficina de programação para mulheres lhe renderam uma nova compreensão sobre os problemas vividos nas periferias, e Silvana passou a questionar as diferenças no uso e na produção de inovações tecnológicas, além de perceber o potencial da tecnologia para construir novas narrativas. Em seguida, foi convidada a trabalhar com Gabriela Agustini, outra Empreendedora Social Ashoka, na Olabi, organização que tem foco na transformação social por meio da democratização de tecnologias. Lá aprofundou seus conhecimentos de pesquisa sobre diversidade, equidade e inovação. 

Inovações. Ao longo de sete anos de desenvolvimento, a estratégia de transformação social arquitetada por Silvana passou a combinar cinco vertentes: capacitação para mulheres negras; criação de redes; consultoria e treinamento para empresas; pesquisa e desenvolvimento de conteúdo; e defesa de direitos. Por exemplo, para estreitar a lacuna entre o talento das mulheres negras, indígenas e de baixa renda e a necessidade de atender aos princípios de diversidade, equidade e inclusão (DEI) nas empresas, Silvana adota uma abordagem que atua tanto no lado da oferta quanto no da demanda. 

Ela desenvolveu um programa de capacitação destinado às mulheres negras interessadas em ingressar na área de tecnologia, que oferece conhecimentos e ferramentas essenciais para que elas entrem e se mantenham no setor tecnológico, incluindo competências socioemocionais e de solução de problemas, além de mentorias e aconselhamento psicológico que reduzem a autossabotagem. 

Como co-diretora executiva do Olabi, Silvana colabora com líderes de grandes empresas, que precisam transformar a cultura corporativa. Para construir uma base sólida para a contratação e retenção de talentos diversos em empresas do setor tecnológico, a aposta da empreendedora é provocar discussões sobre o verdadeiro significado de um espaço de trabalho favorável à diversidade e livre de barreiras para que mulheres negras e indígenas permaneçam e prosperem.​​​ Exemplo disso, é a parceria com o Google que resultou em uma mudança na seleção de estágio para a área de tecnologia da empresa, uma vez que a antiga exigência de fluência na língua inglesa tornava o processo excludente ao considerar que apenas 5% da população brasileira têm conhecimento do idioma.“Vejo Silvana como a arquiteta de uma significativa mudança sistêmica em que passará todo o campo das tecnologias, o que pressupõe mudanças radicais sobre como as tecnologias são pensadas, desenvolvidas e consumidas, não apenas por considerarem perspectivas de gênero e raça em sua concepção, mas pela presença robusta de mulheres negras como desenvolvedoras, pesquisadoras ou tomadoras de decisão neste setor”, comenta Rafael Murta.

Silvana também é voz influente na defesa da presença das mulheres negras no progresso social, tendo contribuído para a criação de políticas públicas, seja com pesquisas, levantamentos de dados e campanhas voltadas a viabilizar a eleição de candidatas negras a cargos públicos. 

Como parte da rede Ashoka, ampliar o impacto de suas ações é apenas mais um de seus objetivos. “O reconhecimento da Ashoka pode contribuir com a minha trajetória de muitas formas, como aprender com pessoas mais experientes, que têm objetivos e enfrentam barreiras similares, além de ampliar meu conhecimento e repertório acerca das iniciativas que se parecem com a PretaLab ao redor do mundo e aprender junto”, diz Silvana.

Saiba mais sobre a trajetória da nova Empreendedora Social Ashoka: bit.ly/PerfilSilvanaBahia