Mariano Cenamo é reconhecido como Empreendedor Social pela rede global da Ashoka

Fundador do Idesam e da AMAZ, Mariano fomenta uma nova geração de empreendedores, startups e cadeias produtivas para resolver os problemas sociais e ambientais mais urgentes da Amazônia

Fundo em azul marinho com grafismos nos cantos. Ao centro, está uma foto de Mariano Cenamo, homem branco com cabelo castanho, curto e barba. Ele veste uma camiseta preta e sorri para a foto
Fonte: Rodrigo Duarte

Imagine uma nova economia para a Amazônia, harmonizada com suas florestas e rios, fundamentada na diversidade e inovação, promovendo a justa repartição de benefícios com comunidades locais e catalisando uma economia de baixo carbono para todo o Brasil. Pode parecer distante do cenário atual de urgência ambiental, social e climática na região. Mas, é essa aspiração que move Mariano Cenamo, fundador do Idesam e da AMAZ, que acaba de ser reconhecido como Empreendedor Social pela pioneira e maior rede global de Empreendedores Sociais, a Ashoka.

Ao longo de seus 20 anos na Amazônia, Cenamo tem atuado como propulsor de uma nova economia, construindo um ecossistema de negócios sustentáveis e reimaginando o financiamento dessa construção. "A criatividade e as experiências de Cenamo informam e dinamizam a vasta rede de 1.800 empreendedores sociais da Ashoka que estão trabalhando por mudanças sistêmicas na área ambiental. Nós acreditamos que cada pessoa e organização que se junta à nossa comunidade fortalece a confiança e o impacto das demais," diz Andrea Margit, vice-presidente da Ashoka na América Latina.

Como Cenamo descreve os maiores desafios da Amazônia? Atualmente, o uso inadequado da terra é responsável por quase metade das emissões de gases de efeito estufa do Brasil – cerca de 80% das quais são resultado do desmatamento na Amazônia. Instalar um novo modelo econômico que valorize a floresta em pé é a única possibilidade de crescimento qualificado, justo e inclusivo para a região. A bioeconomia da Amazônia vem crescendo, mas a disparidade de investimentos e incentivos faz com que esses negócios não sejam competitivos no mercado tradicional, inibindo possibilidades de crescimento significativo. Para Cenamo, os povos da floresta e aqueles que trabalham para as cadeias de valor sustentáveis na Amazônia precisam adquirir confiança, competência e recursos para mudar a lógica por trás do empreendedorismo na floresta.

Trajetória na Amazônia. Paulista de nascimento e amazonense de criação, como gosta de se apresentar, Mariano mudou-se para Manaus aos 23 anos com o propósito de criar um mercado de carbono que fosse baseado na contenção do desmatamento, em contraste com os projetos existentes que se concentravam principalmente no reflorestamento. Fundou o Idesam (Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia) em 2004, com uma abordagem integrada. Isso incluía fornecer assistência técnica para comunidades e agricultores rurais, criar programas e políticas públicas relacionadas a créditos de carbono e outras fontes de renda para comunidades tradicionais, além de demonstrar a empresários e investidores o potencial dos empreendedores da floresta. Em 2017, reuniu um grupo de parceiros e criou uma rede de engajamento do setor privado chamada Plataforma Parceiros pela Amazônia (PPA), de onde surgiu o primeiro programa de aceleração de startups exclusivamente dedicado para a Amazônia, que mais tarde evoluiu para a criação da AMAZ, hoje considerada a maior aceleradora e investidora em negócios de impacto do norte do país. Desde 2021, a AMAZ analisou mais de 350 negócios e investiu em 20 deles, operando um fundo inicial de R$25 milhões, que amplia os impactos sociais e ambientais de empreendimentos construídos por e com as pessoas da Amazônia, para as pessoas da Amazônia e comprometidos com a conservação da floresta.

Inovações. Gradualmente, Cenamo descobriu maneiras eficazes de impulsionar inovações sociais na Amazônia, que serviram de inspiração para outras aceleradoras, incubadoras e investidores. No Idesam, ele conectou os diversos programas em uma jornada progressiva. Inicialmente, oferece suporte para estruturar cadeias de valor que visam conservar ou restaurar as florestas, envolvendo fornecedores, processadores, logística, comercialização e mercados. Em seguida, em parceria com o PPBio (Programa Prioritário de Bioeconomia), uma política pública que conecta o Polo Industrial de Manaus à biodiversidade florestal, o Idesam capta uma porcentagem do faturamento das empresas da Zona Franca de Manaus para investir em pesquisa e desenvolvimento de novos produtos, serviços e negócios da bioeconomia amazônica. Em uma fase mais avançada, os negócios passam para a AMAZ para iniciar um ciclo de crescimento, atraindo novos parceiros e investidores. Nessa etapa, as empresas recebem um capital semente de até R$ 800 mil e podem participar de séries de alavancagem para fortalecer o ecossistema da nova economia da Amazônia.

Para financiar esse programa de aceleração, Mariano construiu um modelo financeiramente sustentável em que conta com duas fontes principais de recursos: fundos filantrópicos e investidores privados, conhecido como blended finance. Os financiadores filantrópicos (em geral, grandes fundos e institutos corporativos ou familiares) têm assento no conselho da organização. Essa estrutura de governança enfatiza a colaboração, promove o compartilhamento sistemático de informações e conexões profundas entre os financiadores e o portfólio de empreendedores da AMAZ. Os investidores privados, por sua vez, comprometem-se com o ethos da organização de acelerar negócios com alto impacto socioambiental comprovado na Amazônia, associados a cadeias de valor que reflorestam ou conservam a biodiversidade. Os termos financeiros envolvem o retorno dos fundos investidos em um prazo de dez anos (prorrogável por mais dois). Esse mecanismo evita que a AMAZ tenha que buscar mais investimentos filantrópicos em um curto período de tempo.

Desde sua criação, a AMAZ foi responsável por 3,6 milhões de hectares de conservação direta ou indireta de floresta distribuídos em 45 municípios de seis estados da região Norte. Além disso, as famílias que tiveram seus negócios acelerados obtiveram R$ 1,45 milhão em renda com a venda de produtos até 2022.

O Café Apuí Agroflorestal é uma iniciativa que demonstra a habilidade do Idesam em desenvolver e manter cadeias de valor sustentáveis na Amazônia. Esse é o primeiro café cultivado à sombra na Floresta Amazônica. O projeto abrange 92 hectares de áreas reflorestadas, onde as plantações de café coexistem com outras espécies nativas, como andiroba, ipê e jatobá. O modelo agrícola adotado pelo Café Apuí Agroflorestal aumentou significativamente o valor dos grãos e possibilitou a emissão de créditos por desmatamento evitado. Além disso, a produtividade por hectare aumentou em 66%, enquanto a renda do produtor por hectare produtivo cresceu em 300%. Este modelo agrícola também demonstrou ser mais saudável, sustentável e lucrativo, uma vez que os agricultores cultivam sem o uso de agrotóxicos.

Horizontes. Em 10 anos, Mariano prevê o surgimento de uma quantidade significativa de negócios desenvolvidos localmente na Amazônia, criando um centro de inovação na região que atrairá a atenção internacional de investidores e abrirá novas oportunidades de empreendimento na floresta. A meta do Idesam é investir pelo menos R$ 100 milhões na bioeconomia amazônica nos próximos anos. Isso vai requerer pelo menos 100 agentes de mercado, entre empresas clientes e parceiros; apoio ou desenvolvimento de 90 cadeias de valor sustentáveis; e o suporte a mais de 220 negócios, organizações sociais e soluções.

Para Cenamo, a construção de uma bioeconomia amazônica só será concretizada com colaboração entre vários atores, a partir da formação de redes de pessoas, organizações, empreendedores, investidores e financiadores que tenham capacidades e habilidades complementares. "Na comunidade Ashoka, espero trocar experiências e construir colaborações com outros empreendedores sociais. Vamos juntos avivar esse sonho,” diz.

Saiba mais sobre a trajetória do novo Empreendedor Social Ashoka: bit.ly/PerfilMarianoCenamo