#JovensTransformadores: Em São Paulo, jovem universitária usa o slam e poesia para democratizar o acesso ao ensino superior e levar jovens negros da periferia para a universidade

Midria e amigos criaram na universidade o coletivo USPerifa – Núcleo de Culturas Periféricas, para transformar a forma como comunidades e grupos marginalizados participam do ensino superior
Fonte: Ashoka Brasil/Ashoka Brasil

As barreiras ao acesso a várias instituições, como o governo, o ensino superior ou os bancos, levam os agentes de mudança a criar oportunidades iguais para grupos tradicionalmente sub-representados ou marginalizados. Percebendo as barreiras ao acesso à cultura e à educação, Midria e sua equipe organizam batalhas poéticas em uma universidade de prestígio em São Paulo, para transformar a forma como grupos marginalizados e comunidades periféricas se envolvem com o ensino superior. A história da Midria demonstra como democratizar o ingresso em espaços tradicionalmente exclusivos cria acesso inclusivo e aberto ao conhecimento para o bem de todos.

Crescendo na periferia da zona leste da cidade de São Paulo, Midria da Silva Pereira, agora com 21 anos, percebeu os desafios sociais enfrentados por sua comunidade. A distância do centro da cidade significava barreiras à educação, menos participação social e política e menos interação cultural em relação aos que vivem em áreas urbanas. Midria sentiu que sua comunidade periférica era desprovida de atividades culturais – que ela afirma serem essenciais para o desenvolvimento pessoal e de sua própria identidade como uma jovem negra.

Mesmo nesse contexto, Midria cresceu amando livros e poesia. No ensino médio, ela frequentemente participava da Sarau do Vale, uma organização que promove cultura e educação em escolas locais que não tinham equipamentos culturais. Agora frequentando a Universidade de São Paulo, a USP, ela e três amigos decidiram trazer as minorias e comunidades da periferia da cidade para a universidade. A equipe co-fundou o Coletivo USPerifa para promover uma cultura de literatura marginal-periférica por meio dos slams, uma compilação da poesia falada.

A USP é uma das mais prestigiadas instituições de ensino superior do Brasil, mas Midria diz que “tem um legado de exclusão da maioria popular”. Além da falta de informação, distância geográfica e educação pública de baixa qualidade, há múltiplas barreiras simbólicas e físicas entre uma educação universitária e o público em geral. Em resposta, Midria e seus amigos fundaram o coletivo como um evento cultural para unir pessoas marginalizadas e a universidade. Conversas críticas por meio do slam, afirma Midria, promoverão a ressignificação da universidade para desafiar seu legado de exclusão.

A gente vê uma universidade ainda muito branca e elitista, e que precisa encontrar espaços de fortalecimento para alunos da periferia, negros, pessoas trans... O Slam USPerifa é uma competição de poesia, concebida para que as pessoas venham para dentro da universidade. A poesia surge como uma forma de extrapolar dores que a gente carrega, de relações de violência. Todo mundo tem a possibilidade de fazer mudanças.

Midria da Silva Pereira, 21 anos, organizadora do Slam USPerifa

A organização permite que os jovens falem livremente e usem sua voz, compartilhem suas histórias, vivenciem a plena cidadania e se envolvam em cura e transformação coletiva. As batalhas de poesia oferecem aos jovens uma oportunidade para discutir questões sociais urgentes, como sexismo, racismo, fobia LGBT e discriminação de classe. O USPerifa também abre um espaço criativo para artistas independentes, estudantes e não estudantes, para promover seu trabalho através dos slams.

Todos os meses, mais de 1.000 pessoas participam de cada engajamento público, com um número crescente de participantes de fora da universidade. Afastando-se do habitual, as pessoas estão participando da universidade de uma nova forma. Midria e os eventos de seu coletivo estão mudando a cultura e a atitude dos espaços universitários, redefinindo como esses espaços são ocupados.

Nos próximos anos, Midria espera ver as pessoas que participam dos eventos de slam também serem organizadoras de eventos em outras universidades e agentes de mudanças em geral, identificando e buscando soluções ativas para as questões de suas próprias realidades. Ao expandir a influência da organização, Midria imagina espaços maiores e mais inclusivos no ensino superior, onde o slam democratiza o acesso a universidades em todo o país.