Fundadoras d'AzMina e Afrolatinas reconhecidas como empreendedoras sociais pela rede global da Ashoka

As inovações sociais de Carolina Oms e Jaqueline Fernandes têm foco na equidade de gênero e raça ampliando o papel da comunicação, cultura, educação e mobilização social

Fundo em azul marinho com grafismos nos cantos. Ao centro, estão Jaqueline Fernandes e Carolina Oms. Jaqueline é uma mulher negra de cabelos crespos e vermelhos. Ela usa um óculos escuro e fala ao microfone. Carolina Oms é uma mulher branca de cabelos curtos e castanhos. Ela usa óculos e fala ao microfone
Fonte: Divulgação

A Ashoka tem o prazer de anunciar o reconhecimento de Carolina Oms e Jaqueline Fernandes como as mais novas integrantes de sua comunidade global de Empreendedoras Sociais. Por meio do Instituto AzMina e do Instituto Afrolatinas, elas estão desafiando os sistemas que perpetuam opressões contra mulheres e pessoas negras, removendo barreiras entre atores, sistemas e setores que precisam colaborar para promover grandes mudanças estruturais, mas usualmente não o fazem.

"AzMina e Afrolatinas compartilham os princípios fundamentais por trás da construção de redes que impulsionam a transformação social", explica Andrea Margit, vice-presidente da Ashoka na América Latina. "Essas redes se baseiam na colaboração contínua e na troca de valor entre os participantes; têm uma estrutura que facilita o crescimento constante da comunidade a partir de uma visão compartilhada de mudança sistêmica; e oferecem incentivos para que os membros desempenhem um papel ativo na expansão da rede, atraindo novos participantes e formando comunidades interdependentes que ganham força para remodelar estruturas."

Vamos conhecer um pouco da trajetória das novas Empreendedoras Sociais Ashoka e saber como elas criam possibilidades para que todas as pessoas tenham o poder de transformar?

Carolina Oms está empenhada em criar um mundo onde o gênero não determine o acesso a direitos e oportunidades. No Instituto AzMina, Carolina congrega dados abertos, tecnologia, mobilização e jornalismo para combater a desigualdade de gênero no Brasil. Nascida em Guarulhos, na região metropolitana de São Paulo, ela co-fundou a Revista AzMina em 2015, motivada pelo desejo de fazer um jornalismo que preencha lacunas no acesso à informação sobre questões de gênero. A partir de 2018, o Instituto passou a incorporar projetos como aplicativos móveis, redes de apoio e articulações por reformas legislativas.

Uma das soluções desenvolvidas é o aplicativo PenhaS, que auxilia mulheres em situação de violência doméstica, mas também cria uma plataforma de mobilização coletiva. O PenhaS mapeia 400 delegacias e serviços públicos, com equipes treinadas para atender casos de violência contra a mulher, fornecendo informações em tempo real e incentivando a participação ativa das usuárias na avaliação das instituições. O aplicativo ainda oferece funcionalidades de emergência para acionar contatos em caso de violência e um gravador para registrar evidências de agressões, e pode ser facilmente ocultado nos telefones para evitar que os agressores o descubram. Ele ainda permite que as mulheres construam redes de apoio e se organizem, criando campanhas para defender a igualdade de gênero nos serviços públicos, nas políticas e no sistema judiciário.

A escuta e a conexão direta com o público, promovidas pelo jornalismo d'AzMina, levaram à criação de uma comunidade engajada e influente que opera em três níveis. No primeiro, está o foco em empoderamento feminino. Essa é a zona de apoio mútuo e mobilização política, como é o caso do PenhaS. No segundo nível, estão as mídias sociais, tendo AzMina, seus parceiros e membros como porta-vozes pela igualdade de gênero, abordando tópicos que muitas vezes não são debatidos abertamente na mídia convencional, como direitos sexuais e reprodutivos, incluindo o direito ao prazer sexual e ao aborto. Por fim, AzMina trabalha em parceria com a mídia convencional, co-produzindo conteúdos informativos e anúncios de utilidade pública para mulheres vítimas de violência doméstica.

Reconhecendo a importância do poder político na promoção de mudanças sociais, AzMina tornou-se uma referência no Brasil para entender a violência política de gênero, monitorando o Congresso, expondo discriminações e estimulando legislações progressistas. Para isso, a organização lançou o MonitorA - Observatório da Violência Política, nas eleições de 2022, e o Elas no Congresso, plataformas que avaliam o posicionamento de candidatos e o desempenho de legisladores frente a questões de gênero.

Carolina leva tudo o que aprende com a comunidade d’AzMina a um público mais amplo por meio da revista e da defesa de um jornalismo sensível às questões de gênero nas redações tradicionais. Ao ingressar na rede Ashoka, Carolina lembra que tudo começou como uma iniciativa voluntária, e hoje AzMina tem mais de 20 postos de trabalho fixos, todos preenchidos por mulheres. "Embora isso seja maravilhoso, a liderança de um empreendimento social pode ser muito solitária e envolver muita pressão, pois além da responsabilidade de manter a organização funcionando, também temos responsabilidade junto às pessoas que atendemos e apoiamos todos os dias. Fazer parte da rede Ashoka me conecta com empreendedores sociais que estão há mais tempo na estrada e podem me ajudar nessa caminhada. Também espero compartilhar minhas experiências e crescer junto com a rede global."

Perfil da Empreendedora Social Carolina Oms na íntegra: bit.ly/PerfilCarolinaOms
 
Jaqueline Fernandes foi criada em Planaltina, na periferia de Brasília, onde teve sua iniciação política nos movimentos anarco-punk e hip-hop durante a adolescência. Hoje, como fundadora do Instituto Afrolatinas, ela direciona sua energia para combater o racismo e a misoginia no setor de produção cultural. A inovação social de Jaqueline baseia-se em três pilares fundamentais, que incluem: a ampla compreensão das raízes do racismo e do sexismo na sociedade; o fortalecimento da confiança e o reconhecimento das habilidades das mulheres negras como artistas, musicistas, dançarinas, gestoras e profissionais da cultura; e a instauração de novas políticas, práticas e financiamentos por parte de governos e empresas para o efetivo combate do racismo e sexismo no fomento à cultura.

Seu principal projeto é o Festival Latinidades, realizado anualmente desde 2008. Além de oferecer um espaço aberto e gratuito para apresentações, discussões e arte produzida por pessoas negras, o festival fortalece símbolos negros e atua como ferramenta de defesa para populações marginalizadas. Em 2014, sua influência foi tão significativa que contribuiu para a instituição, por lei, do Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra, em 25 de julho, homenageando a história de Tereza de Benguela, mulher escravizada que se refugiou num quilombo onde liderou importante centro de resistência, dando refúgio a outros escravizados fugitivos e indígenas durante o período colonial.

Em 2023, o Festival Latinidades aconteceu em quatro grandes cidades brasileiras - por onde passaram 10 mil pessoas, gerando empregos para 700 mulheres negras e 10 pessoas com deficiência - e começou a se internacionalizar. O festival tornou-se referência no campo da diversidade, equidade e inclusão no setor cultural, destacando essa agenda por todo o país e prestando consultorias para empresas. Jaqueline está agora explorando como influenciar todos os festivais culturais do Brasil por meio de normas e padrões para mudar a maneira como as decisões sobre a programação e contratações de artistas e profissionais desses eventos são tomadas.

Para transformar um festival anual em um "movimento", Jaqueline percebeu que era necessária uma base física permanente e com visibilidade. Então, estabeleceu a Casa Afrolatinas no Varjão, um bairro periférico de Brasília, onde 80% da população é negra e de baixa renda. Esse espaço tornou-se não apenas um campo de provas para formações e treinamentos, mas também um local estratégico para capacitar mulheres negras e promover sua entrada no mercado de trabalho cultural. A Universidade Afrolatinas, uma instituição aberta, híbrida e afrocêntrica, também é parte integrante da estratégia do Instituto. Essa universidade contribui para a democratização do conhecimento técnico, instrumental, político e filosófico sobre as histórias, artes e cultura negra.

Outra inovação em sua iniciativa é o Serviço de Preta, uma subversão do termo "serviço de preto", que visa capacitar mulheres negras como empreendedoras na economia criativa. Segundo Jaqueline, na maioria das vezes, a mão de obra negra das produções culturais está concentrada no trabalho braçal. O Serviço de Preta é um vetor de mudança nesse cenário, propondo uma estratégia micropolítica para levar os negros a posições de poder e aumentar a confiança e a capacidade das mulheres negras como artistas e produtoras de entretenimento cultural.

Jaqueline também é uma defensora incansável de políticas, práticas e financiamentos que enfrentem o racismo e sexismo. Sua atuação junto ao poder público resultou em ações afirmativas nos subsídios culturais do governo, buscando reparar historicamente a ausência de acesso a recursos e a criminalização da cultura negra. Seu propósito é contribuir para a promoção da equidade racial e de gênero, proteger o patrimônio cultural negro e incidir politicamente por meio das artes e cultura para gerar mudanças sistêmicas. "Ao fazer parte da comunidade Ashoka, encontro uma oportunidade de participar de um ambiente de intercâmbio de inovações, desafios e tecnologias na escala global," diz Jaqueline.

Perfil da Empreendedora Social Jaqueline Fernandes: bit.ly/PerfilJaquelineFernandes

"Ao se juntarem à rede global Ashoka, Carolina e Jaqueline não apenas fortalecem uma comunidade de mais de quatro mil empreendedores sociais com suas vivências brasileiras, mas também oferecem perspectivas de políticas públicas e organização social que deveriam ocupar o centro das agendas governamentais", diz Rafael Murta, diretor de Comunidade e Territórios Transformadores da Ashoka no Brasil. "Estamos ansiosos para colaborar, aprender e crescer juntos, e para ver como suas ações continuarão a moldar um futuro mais igualitário e justo."