RECOMENDAÇÕES PARA A EDUCAÇÃO INTEGRAL, TRANSFORMADORA E ANTIRRACISTA

O programa Escolas2030 visa à construção de uma educação integral e transformadora necessariamente antirracista. Ao se orientar pela leitura das relações étnico-raciais e pelo protagonismo de estudantes e educadoras/es, a educação tem a capacidade de desnaturalizar e reinventar as medidas de sucesso ao crescer. Para que a educação das relações étnico-raciais se efetive no Brasil, é necessário promover formação continuada das equipes e a valorização da história e cultura africana, afro-brasileira e indígena. Esses elementos precisam estar no projeto político-pedagógico de cada instituição, incidindo sobre a gestão, o ambiente, o currículo, as metodologias e as relações com o território.

Esta publicação apresenta recomendações destinadas a promover uma educação integral, transformadora e antirracista, e estão baseadas na experiência acumulada de organizações educativas escolares e não escolares participantes do programa Escolas2030 no Brasil.

Capa de publicação. Em destaque, há uma foto de um corredor de escola. Uma criança negra e um professor negro segurando uma pasta se olham e sorriem um para o outro. Abaixo, há um fundo branco com uma faixa vertical amarela à direita. Sobre o fundo branco, lê-se em azul "RECOMENDAÇÕES PARA A EDUCAÇÃO INTEGRAL, TRANSFORMADORA E ANTIRRACISTA"

Práticas antirracistas do coletivo Escolas2030

O Escolas2030 é constituído por um coletivo pesquisador com cerca de 100 organizações educativas que desenvolvem atividades de pesquisa-ação sobre as suas próprias práticas, além de secretarias municipais e estaduais de educação que apoiam as escolas de suas redes na elaboração de suas inovações e pesquisas. Conheça algumas das metodologias e projetos de escolas e redes de ensino que transversalizam as relações étnico-raciais em seus currículos e colocam a prática antirracista no seu cotidiano, sempre orientada pelo protagonismo de estudantes e educadoras/es.

EMEI Gabriel Prestes
São Paulo (SP)

As crianças têm acesso a uma literatura antirracista mesmo antes de serem alfabetizadas. A partir dessas obras, personagens negras, indígenas, migrantes e de outras etnias ajudam a criança a construir um repertório variado e representativo. Além disso, participam de atividades como capoeira e dança, e são expostas à História e às tradições africanas, que promovem a valorização das culturas afro-brasileiras.
 

Escola Comunitária Luiza Mahin
Salvador (BA)

Inspirada em Luiza Mahin, uma figura histórica de resistência negra no Brasil, a escola busca resgatar e fortalecer as identidades afrodescendentes por meio de uma educação crítica e culturalmente relevante. As salas de aula são identificadas por nomes de mulheres que marcaram a história do Brasil, como a escritora Carolina Maria
de Jesus e a guerreira Dandara dos Palmares, reforçando o vínculo das/os estudantes
com essas referências.
 

Escola Pluricultural Odé Kayodê
Goiás (GO)

A escola, cujo nome em iorubá significa “caçador que traz alegria", celebra diversas datas festivas ao longo do ano, como o Ojó Odé (Dia do Caçador, em iorubá), em que as crianças cantam músicas ligadas à cultura africana, participam de rodas de música afoxé e, ao final, ouvem mitos que enriquecem seus aprendizados. Além disso, há lanches tradicionais da culinária afro-brasileira, como acarajé e omolocum, oficinas de máscaras de argila e de percussão, e as crianças jogam o jogo africano Ori. A escola também incentiva as/os professoras/es a desenvolverem materiais pedagógicos, e um dos resultados é uma abordagem matemática baseada em um jogo africano.
 

Escola Municipal Quilombola Professora Lydia Sherman
Armação de Búzios (RJ)

A escola busca desconstruir o racismo e promover o respeito à diversidade por meio da arte. Destaca-se entre as práticas uma encenação teatral baseada no livro Quando a escrava Esperança Garcia escreveu uma carta, de Sônia Rosa, que aborda a história de resistência de uma mulher negra escravizada, com um roteiro que envolve o grupo de capoeira da escola e inclui representações visuais e performáticas da escravidão e da resistência negra. Além disso, a escola promove reflexões sobre padrões de beleza e utiliza símbolos africanos adinkra, como Sankofa e Akoma, para incentivar o resgate e a valorização da identidade negra entre estudantes.
 

Escola Municipal Anne Frank
Belo Horizonte (MG)

A escola nasceu da luta histórica da comunidade, principalmente mulheres negras, criando o bairro do Confisco. Além de ter essa referência de integração com o território muito presente, a escola tem como principais eixos de seu projeto político-pedagógico a educação para as relações étnico-raciais e a educação ambiental. Suas práticas visam a educar para a diversidade, desconstruir formas de pensar e agir, gerando pertencimento dos sujeitos, ativos em suas reivindicações por direitos.
 

EMEF Luiz Gonzaga do Nascimento Júnior
São Paulo (SP)

Conhecida como Gonzaguinha, adota práticas antirracistas, promovendo a valorização da história e cultura afro-brasileira. Entre as ações desenvolvidas, um destaque é a Feira Preta, que envolve semestralmente mostras de projetos e debates focados na educação antirracista.
 

Escola Baniwa Eeno Hiepole
São Gabriel da Cachoeira (AM)

A escola compreende que trabalhar o antirracismo é fundamental para a relação da comunidade com outras ao redor. Organiza as ações em profunda integração, todas fundamentadas na coletividade e valorização dos saberes e práticas tradicionais. Nas reuniões comunitárias, refeições coletivas, jogos ou brincadeiras, todas as pessoas são tratadas de forma igualitária, e a prática da equidade no ambiente escolar transborda para qualquer espaço de convivência da comunidade.

IFSP campus São Roque
São Roque (SP)

O Instituto Federal promove estudos e ações sobre relações étnico-raciais por meio do Núcleo de Estudos Afro-brasileiro e Indígena (NEABi). O NEABi busca garantir que questões como racismo e xenofobia sejam tratadas seriamente nas atividades de ensino, pesquisa e extensão, promovendo a inclusão e o debate. A temática étnico-racial é abordada especialmente em componentes curriculares como língua portuguesa, sociologia e história. O campus também organiza eventos antirracistas em três momentos do ano e, no contexto do programa Escolas2030, vem realizando uma pesquisa sobre equidade interétnica, que tem mostrado melhorias no comportamento de estudantes e intensificado o debate sobre educação antirracista.
 

CIEJA Campo Limpo
São Paulo (SP)

Tem em seu projeto político-pedagógico um foco na educação para as relações étnico-raciais, trabalhando a valorização da cultura afro-brasileira e das culturas indígenas ao longo do ano. Duas comissões formadas por professores e gestores organizam diversas atividades, com destaque para o Seminário Étnico-racial realizado anualmente. Todas as sextas-feiras, há momentos de estudo entre docentes sobre essas temáticas.

Secretaria da Educação do Estado da Bahia
Bahia

Reconhecendo que mais de 80% dos estudantes da rede estadual se identificam como pardos, pretos ou indígenas, a instituição integra a educação antirracista e o ensino da história e cultura indígena, africana e afro-brasileira como eixos centrais no Documento Curricular Referencial da Bahia (DCRB) para todas as etapas de ensino. Além disso, o componente curricular “História e Cultura Indígena, Africana e Afro-brasileira” é parte dos itinerários formativos do ensino médio. Outra ação de incentivo é o Edital Makota Valdina, que premia projetos escolares e recursos educacionais que destacam as contribuições das culturas africanas, afro-brasileiras e indígenas para a formação da sociedade brasileira.
 

Secretaria Municipal de Educação de Guarulhos
Guarulhos (SP)

A Secretaria integra a história e cultura afro-brasileira e indígena no currículo e afirma a escola como espaço fundamental para a superação do racismo e a promoção da reparação histórica e cultural.

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Tem comentários ou perguntas sobre as recomendações? Tem ideias para disseminá-las de forma a incidir propositivamente sobre diferentes grupos e políticas públicas? Quer compartilhar metodologias e projetos antirracistas que são colocados em prática na sua organização educativa? Escreva para nós em [email protected].

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