Introdução
Valmir co-criou a Conexsus para atuar como um facilitador e conector, preenchendo as lacunas da cadeia de valor para fortalecer uma nova economia, contornando as barreiras políticas e econômicas e criando um impacto sistêmico. Com essa abordagem, a Conexsus capacita atores legítimos em seu campo de atuação e estabelece parcerias inovadoras que possibilitam uma nova economia em sintonia com a preservação e regeneração do meio ambiente.
A nova ideia
Valmir co-fundou o Instituto Conexões Sustentáveis - Conexsus - em 2018 como uma organização sem fins lucrativos que ativa o ecossistema de negócios comunitários rurais e florestais para viabilizá-lo do ponto de vista econômico, social e da biodiversidade. Suas estratégias focam nos três gargalos principais de negócios sustentáveis vividos por associações, cooperativas e pequenos produtores florestais: acesso a mecanismos financeiros, fortalecimento de modelos produtivos e de negócios e conexão com os mercados. Para respondê-las, Valmir capacita produtores que já estão no campo sem ocupar ou disputar espaço e recursos. A legitimidade e relevância da Conexsus, conquistada em menos de dois anos, advém precisamente da rede de parcerias que integra instrumentos financeiros inovadores e constrói pontes entre diferentes setores e organizações (pequenas e médias empresas, mercado, bancos públicos, entre outros organismos). Atuando como facilitadora e conectora, a Conexsus preenche as lacunas da cadeia de valor para fortalecer uma nova economia, contornando barreiras políticas e econômicas e criando um impacto sistêmico.
Integrando o desenvolvimento pessoal e de negócios, Valmir fortalece as capacidades das lideranças para melhor gerir a produção e as associações, a fim de construir modelos customizados à realidade local e com potencial para aumentar a participação no mercado. Os mecanismos de financiamento da Conexsus trazem soluções híbridas, combinando financiamentos reembolsáveis e não reembolsáveis para permitir que as organizações comunitárias alcancem os mercados formais, diversifiquem suas fontes de sustentabilidade e alavanquem seus negócios. Os investimentos seguem os modelos de garantias (avais), recuperação de crédito e empréstimos rápidos de curto prazo.
Valmir está sempre buscando a ampliação da escala do trabalho. Para ampliar o impacto, a Conexsus está construindo uma rede de agentes de crédito que orienta extrativistas e agricultores familiares para que obtenham os empréstimos; a rede alavancou R $ 4,6 milhões para 17 protótipos de negócios de outros investidores (uma taxa de retorno de 1: 5). Ele também está desenvolvendo modelos de financiamento adaptados para negócios comunitários com o Banco da Amazônia. Valmir busca mudar o perfil do crédito rural no Brasil para que priorize atividades sustentáveis (hoje utilizadas principalmente para o agronegócio) e também almeja mudar a economia atual baseada na monocultura e na pecuária.
O problema
De 1988 a 2017, foram perdidos 428 mil km² de vegetação nativa na Amazônia Legal. Em 2020, mesmo com a crescente conscientização sobre os impactos do desmatamento, a situação só piorou. O primeiro trimestre apresentou um aumento de 51% na taxa de desmatamento em relação a 2019; só em março de 2020, 254 km² de florestas foram derrubados. No Cerrado, 4.000 km² foram desmatados em 2019. Na Mata Atlântica, bioma que já perdeu quase 90% de sua cobertura original, a taxa de desmatamento aumentou 27% entre 2019 e 2020.
O desmatamento é apenas um dos elementos do ciclo de degradação socioambiental. A cultura atual e os hábitos privados estão enraizados no retorno rápido e na renda concentrada, não no compromisso com as questões ambientais. Essa mentalidade também determina as práticas governamentais e empresariais: por exemplo, o tipo de suporte técnico prestado pelos Governos priorizando a pecuária e grãos (monocultura), os procedimentos e requisitos no acesso ao crédito (para quem tem garantias), e na logística (que prioriza grandes volumes e grandes lucros para os intermediários).
Para além da perda de biodiversidade e das suas consequências globais e locais, gera empobrecimento das comunidades rurais, que passam a trabalhar com vários desafios ou aderem a este ciclo perverso de destruição (impulsionado pela falta de oportunidades e apoios). Essas comunidades, que preferem preservar o meio ambiente, muitas vezes ficam com poucas opções econômicas a não ser realizar atividades de baixa produtividade e subsistência, que, por sua vez, são as que enfrentam mais dificuldades de acesso ao crédito e comercialização de seus produtos. Embora o trabalho dos pequenos agricultores tenha ganhado reconhecimento em diversas políticas públicas nos últimos 20 anos, o desafio de conciliar essas atividades com sustentabilidade e rentabilidade mínima para uma vida digna é imenso. Esses pequenos agricultores têm de cumprir exigências legais, fiscais, sanitárias e de marketing e, ao mesmo tempo, competir com o maior volume de produção e uso de tecnologia das empresas maiores. De acordo com o Censo Agropecuário de 2017, baseado em dois estados amazônicos, 88% dos pequenos produtores não têm acesso à assistência técnica e 83% deles não têm acesso a crédito. Nos últimos quatro anos, a pressão para derrubar a floresta aumentou, enquanto o apoio para quem quer viver de forma saudável com a floresta foi reduzido, deixando essas regiões, já problemáticas, em situação de extrema vulnerabilidade socioambiental.
A estratégia
Diante desses problemas, Valmir está fomentando um novo ecossistema de desenvolvimento econômico que preserva a biodiversidade e contribui para a superação da pobreza e da exclusão social. Seu modelo começa com o fortalecimento da capacidade produtiva no campo com comunidades indígenas e instituições locais, incluindo a criação de soluções de acesso ao crédito e ao mercado, oferecendo suporte integral em larga escala.
Valmir começou a testar esse modelo com o Desafio Conexsus: um programa estruturado em três fases e que deu origem à organização em 2018. A primeira fase foi mapear os atores de campo. Para garantir uma boa cobertura e construir legitimidade, mais de 60 organizações na identificação de cooperativas e associações de produtores de todas as regiões do Brasil foram envolvidas, incluindo assentamentos indígenas, quilombolas e de reforma agrária, para garantir um mapeamento amplo e diversificado capaz de compreender as diferentes necessidades dos diferentes territórios. Na segunda fase, o programa realizou 13 seminários nacionais em parceria com diversos atores para ouvir atentamente os desafios enfrentados pelas comunidades locais e trocar informações sobre desenvolvimento sustentável com 300 cooperativas (selecionadas após a primeira fase). Na terceira fase, 100 cooperativas foram aceleradas, culminando na mobilização de mais de 80 empresas potencialmente adquirentes de seus produtos da sociobiodiversidade. O Desafio Conexsus consolidou a metodologia que marca a organização: trabalhar junto com base nas instituições e conhecimentos locais e conectar diferentes setores que possuem dificuldade de dialogar. Ao fortalecer o ecossistema sem suplantar o lugar de atores legítimos, a atuação da organização não é vista como político-partidária e construiu legitimidade e relevância em um curto espaço de tempo, o que é raro nesse campo.
As lições aprendidas estruturaram a organização em três frentes: 1. Desenvolvimento e fortalecimento das capacidades das lideranças socioambientais locais, principalmente na gestão de suas organizações socioprodutivas; 2. Promoção de mecanismos de comércio justo para aumentar a renda dos pequenos produtores, valorizando a sociobiodiversidade; e 3. Expansão do acesso ao crédito e outros investimentos para as cadeias de valor dos produtos da biodiversidade.
As três frentes estão interligadas. Para fomentar as capacidades dos produtores locais, a Conexus atua como um acelerador, proporcionando treinamentos customizados e metodologias aprimoradas desde o Desafio Conexsus, incluindo aspectos de negócios (gestão, marketing, finanças etc.) e produção (tecnologias sustentáveis, aumento de eficiência etc.). Isso é essencial para prepará-los para o mercado. Em segundo lugar, ao garantir produtos sustentáveis de alta qualidade que atraem o mercado, Valmir é capaz de promover o comércio justo por meio de roadshows, eventos e reuniões bilaterais para conectar as duas pontas, fortalecendo toda a cadeia.
Ao mesmo tempo, isso não seria possível sem acesso ao crédito. Uma das frentes mais inovadoras da Conexsus é o acesso ao crédito com uma carteira que vai do crédito direto às instituições ao apoio no acesso ao crédito público. Além de captar recursos para sua própria sustentabilidade, a Conexsus também oferece crédito com condições especiais para associações, cooperativas e negócios sociais comunitárias em cadeias produtivas da sociobiodiversidade por meio da CX Investimentos, de propriedade integral da Conexsus. Com isso, a organização já entregou mais de R $ 6 milhões em apoio a negócios comunitários. O portfólio inclui treinamento e construção de pontes entre produtores e bancos públicos para acesso ao crédito. Por meio de uma parceria com o Banco da Amazônia, a Conexsus quer ampliar para 10% o uso de recursos públicos para atividades produtivas sustentáveis na Amazônia (hoje é menos de 0,6%). Outra parceria com o Banco do Brasil também está em andamento com o mesmo objetivo. Nos últimos dois anos, as organizações locais apoiadas pelo Conexsus beneficiaram mais de 7.500 famílias, cobrindo um território com mais de 175.000 pessoas diretamente impactadas.
Ao apoiar mil organizações socioprodutivas, o papel da organização se fortaleceu trazendo impactos financeiros para associados e comunidades atendidas. A CoopCerrado, por exemplo, participou do programa de aceleração. Sua receita em 2018 foi de R $ 2 milhões; em 2021, após dois empréstimos do Fundo Conexsus e participação em eventos de negócios, a CoopCerrado prevê faturaramento de mais de R $ 7 milhões. Composta por 4.000 produtores locais em cinco estados, a CoopCerrado conseguiu aumentar a geração de renda para os associados em mais de 300%. Além da contribuição econômica, a cooperativa se tornou a prova de que uma nova economia ambientalmente sustentável é possível. Foi reconhecida na 12ª edição do Prêmio Equador como uma das 10 melhores iniciativas, um prêmio concedido a cada dois anos aos esforços da comunidade para reduzir a pobreza por meio da conservação e do uso sustentável da biodiversidade.
Com a pandemia, a Conexsus lançou iniciativas emergenciais para responder à crise em parceria com o Banco da Amazônia, incluindo o co-desenvolvimento do Plano de Resposta Socioambiental Covid-19, que apoia 82 empresas comunitárias que receberam um total de R $ 6,4 milhões, impactando mais de 10.500 mil agricultores familiares. Hoje, Valmir traça uma parceria inédita que cria uma rede de ativadores de negócios sustentáveis, acionados pela Conexsus, com o objetivo de garantir que 4.200 unidades produtivas familiares de comunidades tradicionais tenham acesso a R $ 30 milhões em empréstimos públicos, assistência técnica e financeira Educação. Para o futuro, Valmir quer provar a viabilidade financeira da restauração da biodiversidade em grande escala com pequenos e médios produtores.
A pessoa
Valmir nasceu em uma família de agricultores que migraram para o Mato Grosso do Sul em busca de novas oportunidades. Ele testemunhou ao longo de sua adolescência a transição do território para a economia da monocultura, antes ocupado por pequenos agricultores. Para apoiar o sustento da família, começou a trabalhar como ourives ainda jovem, onde desenvolveu uma abordagem holística e atenta a tudo o que faz hoje. Sua opção por estudar geografia na universidade foi uma tentativa de entender e dar respostas ao contexto em que vivia.
Na universidade, ele se engajou com o movimento estudantil e se tornou uma referência em sua região. Convencido de transformar a educação, Valmir pretendia ser professor, mas seus planos mudaram com o convite para reestruturar em Mato Grosso do Sul uma Secretaria de Meio Ambiente com compromisso com a sociobiodiversidade. O geógrafo assumiu a missão de recriar a Secretaria do Meio Ambiente, administrar a legislação de recursos hídricos e estruturar o sistema de unidades de conservação públicas. Sua abordagem inovadora e compreensiva o levou a vários empreendimentos públicos no Ministério do Meio Ambiente, IBAMA e Secretaria de Meio Ambiente do Pará, que foi um marco importante contra o desmatamento na Amazônia. Sempre com perfil técnico e altamente qualificado, as experiências de Valmir no setor público foram fundamentais para entender o governo por dentro e construir novas soluções.
Em 2010, trouxe toda essa bagagem para se juntar à Conservação Internacional Brasil onde passou a conectar, agora sob a ótica da organização social, mundos diferentes que não se entendiam. Em busca de uma contribuição mais inovadora, Valmir fez parte do desenho de diversos programas e iniciativas multilaterais com o objetivo de divulgar o potencial de soluções econômicas, sociais e ambientais. Em 2018, surgiu a ideia da Conexsus, com a proposta de ser uma organização facilitadora que cria relações de respeito, empoderamento dos atores locais, soluções viáveis economicamente em larga escala e em sintonia com a floresta.