Gabriela Agustini
Ashoka Fellow desde 2023   |   Brazil

Gabriela Agustini

Olabi
Consciente da crescente importância que o entendimento e a construção de tecnologias tem hoje, Gabriela está trabalhando para aumentar a diversidade de gênero, raça e idade, invertendo a abordagem de…
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Esta descrição do trabalho de Gabriela Agustini foi preparada quando Gabriela Agustini foi eleito para a Ashoka Fellowship em 2023.

Introdução

Consciente da crescente importância que o entendimento e a construção de tecnologias tem hoje, Gabriela está trabalhando para aumentar a diversidade de gênero, raça e idade, invertendo a abordagem de aprendizagem de tecnologia e promovendo a inclusão digital.

A nova ideia

Gabriela criou a Olabi, um espaço colaborativo e centro de inovação no centro do Rio de Janeiro, para trazer novos públicos para os programas de educação tecnológica, a fim de enfrentar problemas sociais relevantes para esses públicos. Ela vê que a tecnologia é o futuro, particularmente a tecnologia digital, e para ser um cidadão pleno na sociedade e ter acesso a empregos, todos precisam entender como trabalhar com ela. Gabriela também vê que estas habilidades estão subdesenvolvidas nas mulheres, especialmente mulheres negras, pessoas mais velhas e crianças de vários níveis econômicos. Ela está trabalhando para levar habilidades tecnológicas a essas populações.

Gabriela está fazendo isso invertendo a abordagem de aprendizado tecnológico. Não se trata de um ensino direto de tecnologia, assumindo que as pessoas saberão o que fazer com ela quando aprenderem. Trata-se de encontrar pessoas onde elas estão e introduzir o aprendizado tecnológico nesses contextos. Para as mulheres negras, uma comunidade de mulheres negras que já estão na área tecnológica para trabalharem juntas, dar força umas às outras para aprimorarem seus conhecimentos, trazer outras mulheres negras para aprenderem.

Com pessoas mais velhas, ela conseguiu que elas ministrassem cursos em vários assuntos de sua especialidade, como por exemplo, culinária, tricô, outros hobbies, e as mostrou como usar Zoom e outras habilidades baseadas na internet para fazer isso. Ela mostra às pessoas como elas podem melhorar o que já estão fazendo, trazendo tecnologia relevante na hora certa. Ao mesmo tempo, ela também trabalha para aumentar a demanda, atuando com grandes empresas de tecnologia para aumentar a diversidade de suas equipes.

Gabriela organiza Olabi como um grande galpão de iniciativas e programas de alto impacto que podem evoluir e se tornar organizações autônomas ou metodologias estabelecidas e testadas para serem replicadas por outras instituições com escala. Como laboratório de inovação, na Olabi, Gabriela está sempre criando e testando novas metodologias para resolver problemas urgentes de seu campo e, uma vez consolidada e testada, ela encoraja a replicação por instituições públicas e privadas de grande escala. Para o futuro, ela quer continuar criando estratégias para construir um ecossistema tecnológico e de inovação com grande diversidade de gênero, raça e idade, no qual haverá uma maior compreensão do papel das novas tecnologias - considerando seu papel crítico na construção de um mundo justo e inclusivo.

O problema

O ambiente tecnológico de produção nas últimas décadas tem sido fortemente marcado pela presença de homens. A falta de mulheres e pessoas negras trabalhando nas áreas de Ciência, Tecnologia, Engenharia, Arte, Matemática (STEAM), especialmente no Brasil, representa um problema, pois pode contribuir para que sistemas e algoritmos opressivos sejam projetados, os quais automatizam e escalam comportamentos humanos que têm um impacto negativo na sociedade. O pequeno número de mulheres nesta área deve-se, entre outros fatores, ao repertório simbólico que associa a atividade tanto de pesquisa quanto de desempenho no campo da tecnologia às tarefas masculinas. Como a tecnologia é uma área que concentra poder e oportunidades para aqueles com alfabetização tecnológica, ela também tem o potencial de gerar renda e empregos para as pessoas mais vulneráveis que estão atualmente distantes do processo de desenvolvimento de tecnologias.

De acordo com o relatório The Future of Jobs 2018 do Fórum Econômico Mundial, criatividade, pensamento crítico e resolução de problemas são as três habilidades mais importantes para os profissionais do futuro. Para o organismo internacional, a mecanização dos empregos acentua a necessidade de mais habilidades humanas e em diálogo com o desenvolvimento tecnológico. As pessoas capazes de trabalhar estas habilidades junto com o conhecimento técnico sobre como funcionam as máquinas e os sistemas de computador são as que assumirão a liderança no futuro próximo.

Os setores tecnológicos são os que mais geram vagas de emprego. De acordo com a Associação Brasileira de Startups (Abstartups), 420.000 trabalhadores precisam ser contratados para alcançar as metas das empresas até 2024, mas aqueles que têm ocupado estas oportunidades são, em sua maioria, homens brancos, jovens das classes média e alta que iniciaram sua trajetória em instituições de ensino formal. Isto representa um problema importante, pois exclui uma grande parcela da população brasileira, que é composta por 54% de negros e 51,8% de mulheres; ao mesmo tempo em que pode levar a preconceitos raciais e de gênero na produção de tecnologias.

A estratégia

Em 2014, Gabriela fundou o Olabi Makerspace, um espaço de inovação no Rio de Janeiro. Nessa época, o Olabi foi configurado como um espaço de experimentação e compartilhamento de ferramentas, recursos e conhecimentos, e neste lugar, Gabriela e uma colega de trabalho criam programas destinados a resolver problemas específicos através do envolvimento com o universo das tecnologias. Em 2015, em parceria com o Observatório de Favelas, Gabriela desenvolveu um programa chamado “Gambiarra Favela Tech”, uma imersão para desenvolver práticas e atividades baseadas em circuitos eletrônicos e aplicações de "alta" e "baixa" tecnologia, destinado a jovens moradores da Favela da Maré para estimular interesse na área tecnológica, bem como estimular potencial artístico e criativo. Em outro caso, "Aprenda com uma Avó" foi uma plataforma digital iniciada em 2020 que promove a alfabetização digital de pessoas com mais de 60 anos através de oficinas dirigidas por este grupo para pessoas de todas as idades, possibilitando assim a aprendizagem intergeracional e valorizando o conhecimento acumulado da população idosa, ao mesmo tempo em que promove sua inclusão no ambiente tecnológico.

Em 2017, o Olabi tornou-se oficialmente uma organização social com a missão de ter mais diversidade no cenário da inovação e expandir suas ações além do conteúdo educacional.

Para atingir públicos diversos de forma ampla, Gabriela estabelece parcerias com organizações da sociedade civil, órgãos públicos e entidades privadas. As metodologias inovadoras criadas no Olabi, como a "Computação Sem Caô", que teve a missão de difundir o conhecimento sobre o pensamento computacional de forma fácil e relacionada a temas do cotidiano; e o “Clube das Grandes Inventoras”, oficinas que visam estimular o interesse de meninas na tecnologia, já foram utilizadas em escolas, centros culturais e organizações educacionais nacionais como o Sesi Nacional (Serviço Social da Indústria Nacional). Com esta mesma instituição, Gabriela organizou oficinas em um festival de robótica para mais de 20.000 pessoas, trazendo a arte e o pensamento crítico como foco do processo, incentivando-os a serem multiplicadores deste pensamento em sala de aula. Ela também faz parte da rede Fablab, que são espaços de inovação para a manufatura digital em todo o mundo. Estes Fablabs estão equipados com ferramentas e materiais para a tecnologia de produção, estimulando a inovação através da prototipagem em um ambiente colaborativo.

Além disso, Gabriela trabalha como curadora e organizadora de eventos sobre tecnologia que são amplamente divulgados na mídia, dando visibilidade a discussões profundas sobre a relevância e urgência de se ter mais diversidade na produção tecnológica. Ela também trabalha em um programa de TV da TV Futura, uma TV educativa no Brasil sobre projetos de tecnologia com impacto social. Em parceria com a TV Cultura, uma emissora televisiva pública no Brasil, ela está construindo um programa que aborda a tecnologia a partir de uma perspectiva humanizada e com linguagem acessível.

Em 2020, mais de 100 grandes empresas do país contataram Olabi para entender como aumentar a diversidade de suas equipes. Para empresas consideradas estratégicas, ou seja, aquelas que têm o poder de influenciar a prática de outras empresas em sua área, Gabriela desenvolveu com Silvana Bahia, sua parceira na Olabi, campanhas específicas como o projeto Enegrecer a Tecnologia, criado com a ThoughtWorks, que resultou em um mapeamento do cenário tecnológico atual em termos de diversidade e a criação de programas de contratação e treinamento para elevar os funcionários negros de seus cargos. Este é também o caso de uma campanha de contratação em curso no Brasil com o Google. E no momento, Gabriela e Silvana estão consolidando e sistematizando um ebook prático em licença aberta para que muitas outras empresas possam utilizá-lo como guia para aumentar a diversidade de suas equipes não apenas através de processos inclusivos de contratação, mas também com programas de treinamento contínuo dos funcionários, elevando-os da base para o topo das empresas.

Ela está constantemente focada em fomentar o poder da tecnologia para atender aos interesses e urgências sociais. Na primeira onda da COVID-19 no Brasil, ela reuniu ONGs, universidades e makerspaces no país para compartilhar as melhores práticas e trocar tecnologias e experiências em uma plataforma online comum, chamada ProtegeBr. A iniciativa desempenhou um papel fundamental para impulsionar a produção de equipamentos de proteção individual (EPIs) e outros suprimentos médicos que estavam faltando nos hospitais. 250 iniciativas em todo o Brasil foram mapeadas e beneficiadas pela plataforma, o que pôde sistematizar e dar visibilidade a quase 1 milhão de escudos faciais que foram produzidos e doados em todo o país.

Gabriela vê Olabi como um grande armazém de iniciativas e ações de alto impacto que podem evoluir e se tornar organizações autônomas ou se tornar metodologias estabelecidas para serem replicadas por outras instituições. Pretalab, por exemplo, é um programa criado por Silvana Bahia no Olabi, que se tornou o guarda-chuva da Olabi focado em treinar mulheres negras que trabalham no campo da tecnologia e promover uma cultura anti racista em torno deste campo.

Gabriela prevê e quer construir um novo cenário no qual o espaço tecnológico e de inovação tenha o papel principal das mulheres, de pessoas negras e de outros grupos minoritários neste campo. E também uma maior compreensão do papel das novas tecnologias permeado pela sociedade - considerando seu papel crítico - assim como profissionais e instituições preparadas para os empregos do futuro.

A pessoa

Gabriela cresceu em várias cidades do interior de São Paulo. De uma família de classe média baixa, ela estudou em escolas particulares e teve que viver com realidades diferentes. Desde pequena, ela aprendeu a viver entre estes dois mundos e a compreender que esta diversidade de referências culturais, econômicas e sociais reflete a grande concentração de renda no país. Nos anos 2000, Gabriela estudou Comunicação Social na Universidade de São Paulo, e depois trabalhou como jornalista por 6 anos nos departamentos digitais de grupos de mídia. Com esta experiência, Gabriela entendeu que a tecnologia é uma linguagem e que as pessoas precisavam aprender esta linguagem para entender a lógica de suas operações. Gabriela viu de perto as mudanças que as novas tecnologias trouxeram ao campo do jornalismo e percebeu que era urgente que a sociedade ocupasse o campo tecnológico de forma mais ampla.

Entre 2009 e 2011 ela foi a gerente da plataforma digital CulturaDigital.Br, do Ministério da Cultura, um programa que promoveu a cultura digital participativa.

Gabriela percebeu que para empreender novas ideias, era necessário ter múltiplas competências e vontade de aprender constantemente; com isto, entendeu também que a ligação com redes de apoio e com outras pessoas, projetos e organizações são importantes para criar novos padrões e paradigmas na sociedade. Em 2014 fundou Olabi, como espaço comunitário, um espaço físico e virtual que se concentra na promoção da diversidade em inovação e tecnologia, utilizando abordagens "bottom-up" (de baixo para cima), dando voz e espaço às ações que surgem de novos protagonistas, em especial de residentes periféricos, mulheres e pessoas negras.